A EVOLUÇÃO PRIMITIVA DA RELIGIÃO E A EVOLUÇÃO POSTERIOR DA RELIGIÃO - O LIVRO DE URANTIA



O Livro de Urântia

A Evolução Primitiva da Religião

(950.1) 86:0.1 A EVOLUÇÃO da religião a partir do impulso anterior primitivo de adoração não depende da revelação. O funcionamento normal da mente humana, sob as influências diretivas do sexto e do sétimo ajudantes da mente, dons que são do espírito universal, é totalmente suficiente para assegurar esse desenvolvimento.
(950.2) 86:0.2 O mais antigo medo pré-religioso das forças da natureza, da parte do homem, tornou-se gradativamente religioso quando a natureza passou a ser personalizada, espiritualizada e finalmente deificada para a consciência humana. A religião do tipo primitivo foi, portanto, conseqüência biológica natural da inércia psicológica das mentes animais em evolução, depois que tais mentes haviam já admitido conceitos sobrenaturais.

(950.3) 86:1.1 À parte o impulso natural da adoração, a religião evolucionária primitiva teve as suas raízes originárias nas experiências humanas com o acaso — a chamada sorte, os acontecimentos comuns. O homem primitivo foi um caçador de alimentos. Os resultados da caça variam sempre, e isso certamente dá origem a experiências que o homem interpreta como boa sorte e má sorte. O infortúnio era um grande fator nas vidas dos homens e mulheres que viviam constantemente no limite incerto de uma existência precária e acossada.
(950.4) 86:1.2 O horizonte intelectual limitado do selvagem concentra de tal forma a atenção no acaso, que a sorte torna-se um fator constante na sua vida. Os urantianos primitivos lutavam pela existência, não por um padrão de vida; eles levavam vidas perigosas, nas quais o acaso exercia um papel importante. O pavor constante da calamidade desconhecida ou não visível pairava sobre esses selvagens como uma nuvem de desespero que efetivamente eclipsava cada prazer. Assim, eles viviam no constante pavor de fazer algo que pudesse trazer a má sorte. Os selvagens supersticiosos sempre temeram um período longo de boa sorte, considerando tal fortuna como precursora certa de calamidade.
(950.5) 86:1.3 Esse pavor, sempre presente, da má sorte era paralisante. Por que trabalhar duro e colher como recompensa a má sorte — nada por alguma coisa — quando se poderia deixar ir e encontrar a boa sorte — alguma coisa por nada? Os homens irrefletidos esquecem-se da boa sorte — aceitam-na como certa — e dolorosamente se lembram da má sorte.
(950.6) 86:1.4 O homem primitivo vivia na incerteza e no medo constante do acaso — da má sorte. A vida era uma aposta excitante de riscos; toda a existência era um jogo. Não é de se espantar que povos parcialmente civilizados ainda creiam no acaso e evidenciem predisposições remanescentes para o jogo. O homem primitivo alternava-se entre dois interesses poderosos: a paixão de conseguir algo por nada e o medo de não ganhar nada em troca de algo. E esse jogo da existência era o interesse principal e a fascinação suprema para a mente selvagem primitiva.
(951.1) 86:1.5 Os pastores de épocas posteriores tinham a mesma visão do acaso e da sorte, ao passo que os agricultores ainda mais recentes foram cada vez mais conscientes de que as colheitas eram influenciadas, de modo imediato, por muitas coisas sobre as quais o homem tinha pouco ou nenhum controle. O agricultor via-se vítima da seca, enchentes, granizo, tempestades, pestes e doenças das plantas, bem como calor e frio. E, como todas essas influências naturais afetavam a prosperidade do indivíduo, eram encaradas como boa ou má sorte.
(951.2) 86:1.6 Essa noção do acaso e da sorte impregnou fortemente a filosofia de todos os povos antigos. Mesmo em épocas recentes, na Sabedoria de Salomão, é dito: “Eu voltei e vi que a corrida não é dos velozes, nem a batalha dos fortes, nem o pão dos sábios, nem as riquezas dos homens de compreensão, nem o favorecimento dos homens de habilidade; mas o destino e o acaso a todos atingem. Pois o homem não conhece o seu destino; do mesmo modo que os peixes são colhidos em uma rede má, e os pássaros são apanhados em uma armadilha, também os filhos dos homens caem nas malhas de um tempo mau, quando este se abate subitamente sobre eles”.

(951.3) 86:2.1 A ansiedade era o estado natural da mente selvagem. Quando homens e mulheres transformam-se em vítimas da ansiedade excessiva, estão simplesmente retornando ao estado natural dos seus ancestrais longínquos; e, quando a ansiedade torna-se de fato dolorosa, ela inibe a atividade e, infalivelmente, leva a mudanças evolucionárias e a adaptações biológicas. A dor e o sofrimento são essenciais à evolução progressiva.
(951.4) 86:2.2 A luta pela vida é tão dolorosa que algumas tribos retrógradas, mesmo hoje, bramem e lamentam-se a cada novo amanhecer. O homem primitivo constantemente perguntava-se: “Quem me está atormentando?” Não encontrando uma fonte material para as suas mágoas, encontrou uma explicação no espírito. E, assim, a religião nasceu do medo do misterioso, do temor do invisível e do pavor do desconhecido. O medo da natureza tornou-se, pois, um fator na luta pela existência; primeiro, por causa do acaso e, depois, por causa do mistério.
(951.5) 86:2.3 A mente primitiva era lógica, mas tinha poucas idéias fruto da associação inteligente; a mente selvagem era inculta, totalmente ingênua. Se um acontecimento vinha depois de outro, o selvagem considerava-os como causa e efeito. O que o homem civilizado considera como superstição, era só ignorância pura, no selvagem. A humanidade tem sido lenta em compreender que não há necessariamente qualquer relação entre propósitos e resultados. Os seres humanos estão apenas começando a compreender que as reações da existência surgem entre os atos e suas conseqüências. O selvagem esforça-se para personalizar tudo o que é intangível e abstrato e, assim, tanto a natureza quanto o acaso tornam-se personalizados como fantasmas — espíritos — e, mais tarde, deuses.
(951.6) 86:2.4 O homem tende naturalmente a crer naquilo que julga ser o melhor para si próprio, aquilo que é do seu interesse imediato ou remoto; o interesse próprio obscurece, em muito, a lógica. A diferença entre as mentes dos selvagens e a dos homens civilizados é mais de conteúdo do que de natureza, de grau mais do que de qualidade.
(951.7) 86:2.5 Continuar a atribuir coisas de compreensão difícil a causas sobrenaturais, contudo, nada mais é do que um modo preguiçoso e conveniente de evitar todas as formas de trabalho intelectual pesado. A sorte é um termo forjado meramente para encobrir o inexplicável em qualquer época da existência humana; ela designa aqueles fenômenos que os homens são incapazes ou não se dispõem a penetrar. Usar a palavra sorte significa que o homem é ignorante demais, ou indolente em excesso, para determinar causas. Os homens consideram uma ocorrência natural como sendo um acidente, ou má sorte, apenas quando são desprovidos de curiosidade e de imaginação, quando falta iniciativa e aventura às raças. A exploração dos fenômenos da vida, mais cedo ou mais tarde, destrói a crença do homem no acaso, na sorte e nos chamados acidentes; e, conseqüentemente, esses fenômenos passam a ocupar o lugar de um universo de lei e de ordem, em que todos os efeitos são precedidos por causas definidas. Assim, o medo da existência é substituído pelo júbilo de viver.
(952.1) 86:2.6 O selvagem via toda a natureza como sendo viva, como sendo possuída por algo. O homem civilizado ainda chuta e pragueja contra os objetos inanimados que entram na sua frente e chocam-se com ele. O homem primitivo nunca encarou nada como acidental; tudo foi sempre intencional. Para o homem primitivo, o domínio do destino, função da sorte, mundo dos espíritos, era tudo tão desorganizado e sujeito ao acaso, quanto o era a sociedade primitiva. A sorte era considerada como uma reação caprichosa e temperamental do mundo do espírito; e, mais tarde, causa do humor dos deuses.
(952.2) 86:2.7 Contudo, nem todas as religiões se desenvolveram do animismo. Outros conceitos do sobrenatural foram contemporâneos do animismo, e essas crenças também conduziram à adoração. O naturalismo não é uma religião — ele nasce da religião.

(952.3) 86:3.1 A morte foi o choque supremo para o homem em evolução, a combinação mais desconcertante de acaso e mistério. Não a santidade da vida, mas o choque da morte é que inspirava o medo e, assim, fomentava efetivamente a religião. Em meio aos povos selvagens, a morte, comumente, era causada pela violência, de um modo tal que a morte não violenta tornou-se cada vez mais misteriosa. A morte, como um fim natural e esperado para a vida, não era algo que estivesse claro para a consciência dos povos primitivos; e foram necessárias idades e mais idades para que o homem compreendesse a sua inevitabilidade.
(952.4) 86:3.2 O homem primitivo aceitou a vida como um fato, ao mesmo tempo que considerava a morte como uma visitação de alguma espécie. Todas as raças possuem suas lendas sobre homens que não morriam, vestígios das tradições da atitude inicial para com a morte. Na mente humana, existia já o conceito nebuloso de um mundo do espírito, obscuro e não organizado, um domínio de onde vinha tudo o que é inexplicável na vida humana; e a morte constava dessa longa lista de fenômenos sem explicação.
(952.5) 86:3.3 Acreditava-se, inicialmente, que todas as doenças humanas, bem como a morte natural, se devessem à influência do espírito. E, ainda no presente, algumas raças civilizadas encaram a doença como tendo sido produzida pelo “inimigo”, e dependem das cerimônias religiosas para efetuar a sua cura. Sistemas mais recentes e complexos de teologia ainda atribuem a morte à ação do mundo do espírito; e tudo isso acarretou doutrinas tais como a do pecado original e a da queda do homem.
(952.6) 86:3.4 Foi a compreensão da impotência diante das forças poderosas da natureza, junto com o reconhecimento da fraqueza humana diante das visitações da doença e da morte, que impeliu o selvagem a buscar ajuda do mundo supramaterial, vagamente visualizado como a fonte dessas vicissitudes misteriosas da vida.

(952.7) 86:4.1 O conceito de uma fase supramaterial da personalidade mortal nasceu da associação inconsciente, e puramente acidental, entre ocorrências da vida diária e sonhos com espíritos. Quando vários membros de uma tribo sonhavam, simultaneamente, com o chefe que já estava morto, isso parecia constituir uma evidência convincente de que o velho chefe havia, realmente, voltado, sob alguma forma. Tudo era muito real, para o selvagem, quando, molhado de suor, acordava desses sonhos, tremendo e gritando.
(953.1) 86:4.2 A origem da crença em uma existência futura explica a tendência de sempre imaginar as coisas não visíveis nos termos das coisas visíveis. E, logo, esse conceito novo de uma vida-futura-do-fantasma-onírico transformou-se, efetivamente, no antídoto para o medo da morte, associado ao instinto biológico de autopreservação.
(953.2) 86:4.3 O homem primevo também se preocupava muito com o ar expirado, especialmente nos climas frios, quando a exalação saía como uma nuvem. O sopro da vida foi considerado como o fenômeno que diferenciava os vivos dos mortos. Ele sabia que o seu sopro podia deixar o corpo e que seus sonhos, de estar fazendo toda espécie de coisas estranhas, enquanto adormecido, convenciam-no de que havia algo imaterial em um ser humano. A idéia mais primitiva da alma humana, o fantasma, derivou desse sistema de idéias gerado pela respiração e pelos sonhos.
(953.3) 86:4.4 Finalmente, o selvagem concebeu a si próprio como um ser duplo — o corpo e a respiração. O sopro, menos o corpo, era igual ao espírito, igual a um fantasma. Embora tivessem uma origem humana bastante definida, os fantasmas, ou os espíritos, eram considerados supra-humanos. E essa crença, na existência de espíritos fora dos corpos, parecia explicar a ocorrência do inusitado, extraordinário, infreqüente e inexplicável.
(953.4) 86:4.5 A doutrina primitiva da sobrevivência depois da morte não era necessariamente uma crença na imortalidade. Seres que não podiam contar acima de vinte, dificilmente poderiam conceber a infinitude e a eternidade; pensavam, antes, em repetidas encarnações.
(953.5) 86:4.6 A raça alaranjada era especialmente dada a acreditar na transmigração e na reencarnação. Essa idéia, a da reencarnação, originou-se na observância da semelhança hereditária e nos traços entre a progênie e os ancestrais. O costume de chamar os filhos pelos nomes dos avós e outros ancestrais era devido à crença na reencarnação. Algumas raças bem recentes acreditavam que o homem morria de três a sete vezes. Essa crença (que remonta aos ensinamentos de Adão sobre os mundos das mansões), bem como muitas outras, que são remanescentes da religião revelada, podem ser encontradas entre as doutrinas absurdas, por outros motivos, dos bárbaros do século vinte.
(953.6) 86:4.7 O homem primitivo não alimentou idéias de um inferno, nem de punições futuras. O selvagem via a vida futura exatamente como via esta, menos toda a má sorte. Mais recentemente, um destino diferente para os bons espíritos e para os maus espíritos — o céu e o inferno — foi concebido. Todavia, já que muitas raças primitivas acreditavam que o homem entrava na próxima vida exatamente como havia deixado esta, a idéia de tornarem-se velhos e decrépitos não lhes era agradável. O idoso preferia muito ser morto, antes de tornar-se enfermo demais.
(953.7) 86:4.8 Os grupos, quase todos, alimentavam idéias diferentes a respeito do destino do fantasma da alma. Os gregos acreditavam que os homens fracos deviam ter almas fracas e, sendo assim, inventaram o Hades como um lugar adequado para receber essas almas anêmicas; supunha-se também que esses espécimes, pouco robustos, tivessem sombras menores. Os primeiros anditas achavam que os seus fantasmas retornavam para as terras ancestrais. Chineses e egípcios acreditaram outrora que a alma e o corpo permaneciam juntos. Entre os egípcios, isso levou a construções aprimoradas de tumbas e a esforços para se preservar os corpos. Mesmo os povos modernos buscam evitar a decomposição dos mortos. Os hebreus concebiam que uma réplica do fantasma do indivíduo descia até o Sheol, e não podia voltar à terra dos vivos. E conceberam esse avanço importante na doutrina da evolução da alma.

(953.8) 86:5.1 A parte não-material do homem tem sido denominada de vários modos: fantasma, espírito, sombra, visão, espectro e, mais recentemente, alma. A alma certa vez foi o sonho que o homem primitivo tinha, do seu ser duplicado; era, em todos os sentidos, exatamente como o próprio mortal, a não ser pelo fato de não ser sensível ao toque. A crença nesses duplos oníricos levou diretamente à noção de que todas as coisas, animadas e inanimadas, tinham almas tanto quanto os homens. Esse conceito, durante muito tempo, levou à perpetuação das crenças em espíritos da natureza; os esquimós ainda acham que tudo na natureza tem um espírito.
(954.1) 86:5.2 A alma fantasma podia ser ouvida e vista, mas não tocada. Gradualmente, a vida que a raça tinha durante os sonhos desenvolveu e expandiu, assim, as atividades desse mundo espiritual em evolução, e de um tal modo, que a morte, finalmente, foi considerada como “entregar a alma”. Todas as tribos primitivas, excetuando-se aquelas só pouco acima dos animais, desenvolveram algum conceito de alma. À medida que a civilização avança, esse conceito supersticioso da alma é destruído, e o homem torna-se inteiramente dependente da revelação e da experiência religiosa pessoal, para a sua nova idéia da alma, como uma criação conjunta, feita pela mente mortal sabedora de Deus, monitorada pelo seu espírito interior divino residente, o Ajustador do Pensamento.
(954.2) 86:5.3 Os mortais primitivos, em geral, não conseguiram diferenciar o conceito do espírito residente, separando-o do conceito da alma de natureza evolucionária. O selvagem se confundia muito quanto à alma fantasma nascer junto com o corpo ou quanto a ser um agente externo que tomava posse do corpo. A ausência de um pensamento racional, ao lado da perplexidade, explica as inconsistências grosseiras da visão selvagem sobre as almas, os fantasmas e os espíritos.
(954.3) 86:5.4 Pensou-se na alma como sendo relacionada ao corpo, como o perfume está para a flor. Os antigos acreditavam que a alma podia deixar o corpo de vários modos, tais como:
(954.4) 86:5.5 1. No desmaio comum e passageiro.
(954.5) 86:5.6 2. Dormindo, no sonho natural.
(954.6) 86:5.7 3. No estado de coma e inconsciência, ligado à doença e acidentes.
(954.7) 86:5.8 4. Na morte, a sua partida permanente.
(954.8) 86:5.9 O selvagem considerava o espirro como uma tentativa abortada da alma de escapar do corpo. Estando desperto e alerta, o corpo era capaz de frustrar a tentativa feita pela alma de escapar. Posteriormente, o espirro foi sempre acompanhado por alguma expressão religiosa, tal como “Deus o abençoe!”
(954.9) 86:5.10 Nos primórdios da evolução, o adormecer foi considerado como uma prova de que a alma fantasma poderia estar ausente do corpo, e acreditou-se que podia ser chamada de volta, falando-se ou gritando-se o nome do adormecido. Em outras formas de inconsciência, julgava-se que a alma estivesse mais longe, talvez tentando escapar para sempre — a morte iminente. Os sonhos eram considerados como as experiências da alma, durante o sono, enquanto estava temporariamente ausente do corpo. O selvagem crê que os seus sonhos sejam tão reais quanto quaisquer partes da sua experiência na vigília. Os antigos tinham a prática de acordar os adormecidos gradativamente, de modo que a alma pudesse ter tempo de re-encaixar-se no corpo.
(954.10) 86:5.11 Em todas as épocas, os homens amedrontavam-se com as aparições em horas noturnas; e os hebreus não foram nenhuma exceção. Acreditavam verdadeiramente que Deus falava a eles, em sonhos, apesar das determinações de Moisés contra tal idéia. E Moisés estava certo, pois os sonhos comuns não são o meio mais empregado pelas personalidades do mundo espiritual, quando buscam comunicar-se com os seres materiais.
(954.11) 86:5.12 Os antigos acreditavam que as almas podiam entrar nos animais ou mesmo nos objetos inanimados. Essa identificação com os animais culminou na idéia de lobisomens. Um indivíduo podia ser um cidadão da lei durante o dia, mas, quando adormecia, a sua alma podia entrar em um lobo ou outro animal e perambular em depredações noturnas.
(955.1) 86:5.13 Os homens primitivos achavam que a alma estivesse associada à respiração, e que por meio desta as suas qualidades podiam ser comunicadas ou transferidas. O valente chefe sopraria sobre a criança recém-nascida, com isso ministrando-lhe a coragem. Entre os primeiros cristãos, a cerimônia de conferir o Espírito Santo era acompanhada de sopros nos candidatos. Disse o salmista: “Pela palavra do Senhor, os céus foram feitos e todas as Suas hostes, por meio do sopro da Sua boca”. É antigo o costume de um filho primogênito tentar captar o último sopro do seu pai à morte.
(955.2) 86:5.14 A sombra, mais tarde, veio a ser temida, e reverenciada, do mesmo modo que a respiração. O reflexo de si próprio na água, também, algumas vezes, foi visto como evidência do duplo eu; e os espelhos encarados com um respeito supersticioso. E, mesmo hoje, muitas pessoas civilizadas viram os espelhos contra a parede, em caso de morte. Algumas tribos retrógradas ainda acreditam que as fotos, desenhos, modelos, ou imagens, retiram toda ou parte da alma do corpo; por isso, tais coisas ficam proibidas.
(955.3) 86:5.15 Achava-se geralmente que a alma fosse identificada com a respiração; mas, também, vários povos a localizaram na cabeça, cabelo, coração, fígado, sangue e gordura. O “grito que saiu do sangue de Abel, no chão”, exprime a crença, de outrora, na presença do fantasma no sangue. Os semitas ensinavam que a alma residia na gordura do corpo e, entre muitos deles, comer gordura animal era um tabu. Um modo de capturar a alma do inimigo seria caçar a sua cabeça, como o foi retirar o escalpe. Em tempos recentes, os olhos têm sido encarados como sendo janelas da alma.
(955.4) 86:5.16 Aqueles que sustentavam a doutrina de três ou quatro almas acreditavam que a perda de uma alma significava desconforto, de duas, a doença, e de três, a morte. Uma alma vivia na respiração, outra, na cabeça, a terceira, nos cabelos, e a quarta, no coração. Os doentes recebiam o conselho de passear ao ar livre, na esperança de recapturar as suas almas desgarradas. Os maiores dos curandeiros deviam trocar a alma adoentada de uma pessoa enferma por uma nova, o que era um “novo nascimento”.
(955.5) 86:5.17 Os filhos de Badonan desenvolveram a crença em duas almas: a respiração e a sombra. As primeiras raças noditas consideravam que o homem consistia de duas pessoas: alma e corpo. Essa filosofia da existência humana, mais tarde, refletiu-se no ponto de vista grego. E os próprios gregos mesmo acreditavam em três almas: a vegetativa, que residia no estômago; a animal, no coração; a intelectual, na cabeça. Os esquimós acreditam que o homem tem três partes: corpo, alma e nome.

(955.6) 86:6.1 O homem herdou um meio ambiente natural, adquiriu um ambiente social e imaginou um ambiente fantasma. O estado é a reação do homem ao seu meio ambiente natural; o lar, a sua reação ao seu ambiente social; a igreja, a sua reação ao seu ambiente-fantasma ilusório.
(955.7) 86:6.2 Muito cedo, na história da humanidade, as realidades do mundo imaginário, dos fantasmas e dos espíritos, tornaram-se universalmente acreditadas; e tal mundo espiritual recém-imaginado tornou-se um poder na sociedade primitiva. A vida mental e moral de toda a humanidade foi modificada para sempre pelo surgimento desse novo fator no pensamento e nos atos humanos.
(955.8) 86:6.3 Dentro dessa premissa maior, na ilusão e na ignorância, o medo do mortal empacotou todas as superstições e religiões subseqüentes dos povos primitivos. E foi essa a única religião do homem até a época da revelação, e, hoje, muitas das raças do mundo têm apenas tal religião imatura, proveniente apenas da evolução.
(955.9) 86:6.4 Com o avanço da evolução, a boa sorte ficou associada aos bons espíritos, e a má sorte, aos espíritos maus. O desconforto de uma adaptação forçada a um ambiente em mutação foi encarado como má sorte, o descontentamento dos fantasmas espíritos. O homem primitivo, aos poucos, fez a sua religião evoluir, saída do seu impulso inato de adoração e da sua concepção errônea do acaso. O homem civilizado criou esquemas de segurança para superar os acontecimentos ao acaso; a ciência moderna, em lugar de espíritos fictícios e deuses caprichosos, coloca os compêndios e as estatísticas apoiando-as em cálculos matemáticos.
(956.1) 86:6.5 Cada geração que passa sorri das superstições tolas dos seus ancestrais, alimentando, ao mesmo tempo, as falácias de pensamento e adoração que irão ser o motivo dos risos futuros da posteridade mais esclarecida.
(956.2) 86:6.6 Finalmente, porém, a mente do homem primitivo foi ocupada por pensamentos que transcenderam a todos os seus impulsos biológicos inerentes; afinal, o homem chegou a ponto de fazer evoluir uma arte de viver, baseada em algo mais do que uma resposta a estímulos materiais. Os primórdios de uma política primitiva de vida filosófica estavam surgindo. Um padrão sobrenatural de vida estava para aparecer, pois se, quando o fantasma espírito está em fúria, ele traz a má sorte, e quando no prazer, ele traz a boa sorte, então, a conduta humana deve ser regulada considerando isso. O conceito do certo e do errado havia, afinal, evoluído; e, tudo isso, muito antes da época de qualquer revelação na Terra.
(956.3) 86:6.7 Com o surgimento desses conceitos, foi iniciada a longa e destrutiva luta para apaziguar os espíritos, sempre descontentes, e iniciou-se a prisão escravizadora ao medo religioso evolucionário, que se constituiu de todos os esforços humanos, longos e desperdiçados, gastos em túmulos, templos, sacrifícios e sacerdócios. Foi um preço terrível, e assustador, o que se pagou; mas valeu todo o seu custo, pois, nisso, o homem alcançou um estado natural de consciência do certo e do errado relativos; e, desse modo, a ética humana havia nascido!

(956.4) 86:7.1 O selvagem sentia a necessidade de segurança e, conseqüentemente, pagava com boa disposição os seus pesados preços, na forma de medo, superstição, pavor e donativos aos sacerdotes; e isso era a sua política de magia como seguro contra a má sorte. A religião primitiva era simplesmente o pagamento do prêmio ao seguro contra os perigos das florestas. O homem civilizado paga prêmios materiais contra os acidentes da indústria e os riscos dos modos modernos de vida.
(956.5) 86:7.2 A sociedade moderna está retirando o negócio dos seguros das mãos dos sacerdotes e da religião, colocando-o sob o controle da economia. A religião está-se ocupando, cada vez mais, com a segurança da vida além da sepultura. Os homens modernos, ao menos aqueles que pensam, não mais pagam dispendiosos prêmios para controlar a sorte. A religião, vagarosamente, está ascendendo a patamares filosóficos mais elevados, se a sua função for comparada à atuação anterior, de esquema de segurança contra a má sorte.
(956.6) 86:7.3 Contudo tais idéias antigas, da religião, impediram os homens de tornarem-se fatalistas e desesperadamente pessimistas; ao menos, eles acreditaram que poderiam fazer algo para influenciar o destino. A religião, por meio do medo dos fantasmas, transmitiu aos homens a certeza de que eles deveriam regular sua conduta, de que havia um mundo supramaterial que mantinha controle sobre o destino humano.
(956.7) 86:7.4 As raças civilizadas modernas estão, agora, deixando de lado esse medo de fantasmas, como explicação para a sorte e para as desigualdades tão comuns da existência. A humanidade está conseguindo emancipar-se da servidão, deixando de explicar a má sorte por meio de espíritos fantasmas. Entretanto, ao mesmo tempo em que os homens estão desistindo da doutrina errônea de uma causa espiritual para as vicissitudes da vida, eles demonstram uma disposição surpreendente para aceitar um ensinamento, quase tão falacioso, que os concita a atribuir toda a desigualdade humana ao desajuste político, à injustiça social e à competição industrial. No entanto, uma nova legislação, uma filantropia crescente e uma reorganização mais industrial, por melhores que forem, por si próprias, não irão remediar os fatos do nascimento e dos acidentes da vida. Apenas a compreensão dos fatos e uma manipulação mais sábia, dentro das leis da natureza, capacitarão o homem a conseguir o que ele almeja e evitar o que ele não quer. O conhecimento científico, que conduz à ação científica, é o único antídoto contra os chamados males acidentais.
(957.1) 86:7.5 A indústria, a guerra, a escravidão e o governo civil surgiram, em resposta à evolução social do homem, no seu meio ambiente natural; a religião surgiu, do mesmo modo, como uma resposta sua ao ambiente ilusório do mundo imaginário dos fantasmas. A religião foi um desenvolvimento evolucionário de automanutenção, e tem funcionado não obstante haver sido originalmente errônea em conceito, e totalmente ilógica.
(957.2) 86:7.6 Por intermédio da força poderosa e intimidante de um falso medo, a religião primitiva preparou o solo da mente humana para o recebimento de uma força espiritual autêntica, de origem sobrenatural: a dádiva do Ajustador do Pensamento. E os Ajustadores divinos, desde então, têm trabalhado para transmutar o temor de Deus em amor a Deus. A evolução pode ser lenta, mas é infalivelmente

(957.3) 86:7.7 eficaz.

O Livro de Urântia

Documento 92


A Evolução Posterior da Religião


(1003.1) 92:0.1 O HOMEM possuiu uma religião de origem natural, como parte da sua experiência evolucionária, muito antes que fossem feitas quaisquer revelações sistemáticas em Urântia. Mas essa religião de origem natural, em si mesma, foi um produto dos dons supra-animais do homem. A religião evolucionária tomou corpo devagar, através dos milênios, na carreira de experiência da humanidade, por intermédio da ministração das seguintes influências, operando interiormente ou impingindo-se, do exterior, sobre o homem selvagem, o bárbaro e o civilizado:
(1003.2) 92:0.2 1. O ajudante da adoração — o surgimento, na consciência animal, de potenciais supra-animais para a percepção da realidade. Isso poderia ser denominado o instinto humano primordial na direção da Deidade.
(1003.3) 92:0.3 2. O ajudante da sabedoria — a manifestação, em uma mente adoradora, da tendência de dirigir a sua adoração para canais mais elevados de expressão e na direção de conceitos sempre em expansão da realidade da Deidade.
(1003.4) 92:0.4 3. O Espírito Santo — essa é a dotação inicial da supramente e, infalivelmente, aparece em todas as personalidades humanas de boa fé. Essa ministração, para uma mente que almeja a adoração e que deseja a sabedoria, cria a capacidade da auto-realização dentro do postulado da sobrevivência humana, tanto no seu conceito teológico quanto como uma experiência real e factual da personalidade.
(1003.5) 92:0.5 O funcionamento coordenado dessas três ministrações divinas é totalmente suficiente para iniciar e fazer prosseguir o crescimento da religião evolucionária. Essas influências, mais tarde, são amplificada pelos Ajustadores do Pensamento, pelos serafins e pelo Espírito da Verdade, os quais, todos eles, aceleram em grau o desenvolvimento religioso. Essas agências vêm, há muito, atuando em Urântia e continuarão aqui, enquanto este planeta continuar sendo uma esfera habitada. Grande parte do potencial desses agentes divinos não teve ainda uma oportunidade de expressão; e muito será revelado nas idades que virão, à medida que a religião dos mortais elevar-se, nível após nível, na direção das alturas supernas dos valores moronciais e da verdade do espírito.

1. A Natureza Evolucionária da Religião


(1003.6) 92:1.1 A evolução da religião tem sido traçada, desde o medo primitivo e a crença em fantasmas, passando por muitos dos sucessivos estágios de desenvolvimento, incluindo os esforços para coagir os espíritos, primeiro, e para bajulá-los, depois. Os fetiches tribais transformaram-se em totens e em deuses tribais; as fórmulas mágicas transformaram-se nas preces modernas. A circuncisão, inicialmente um sacrifício, transformou-se em um procedimento de higiene.
(1003.7) 92:1.2 A religião progrediu, desde a infância selvagem das raças, da adoração da natureza ao fetichismo, passando pela adoração dos fantasmas. Após a aurora da civilização, a raça humana desposou crenças mais místicas e simbólicas, ao passo que se aproximando da maturidade, agora, a humanidade está ficando pronta para o reconhecimento da verdadeira religião e, mesmo, para um começo da revelação da verdade em si.
(1004.1) 92:1.3 A religião surge como uma reação biológica da mente às crenças espirituais e ao meio ambiente; é a última coisa a perecer ou a mudar em uma raça. A religião é uma adaptação da sociedade, em qualquer idade, àquilo que é misterioso. Como instituição social, a religião abrange ritos, símbolos, cultos, escrituras, altares, santuários e templos. A água benta, as relíquias, os fetiches, os encantos, os ornamentos, os sinos, os tambores e o sacerdócio são comuns a todas as religiões. E é impossível distinguir a religião que haja evoluído, puramente, por meio da magia ou da feitiçaria.
(1004.2) 92:1.4 O mistério e o poder têm sempre estimulado os sentimentos e os temores religiosos, enquanto a emoção tem funcionado sempre como um fator condicionante poderoso do seu desenvolvimento. O temor tem sido sempre o estímulo religioso básico. O medo molda os deuses da religião evolucionária, motivando o ritual religioso dos crentes primitivos. À medida que a civilização avança, o medo é modificado pela reverência, admiração, respeito e simpatia e, então, é condicionado ainda pelo remorso e pelo arrependimento.
(1004.3) 92:1.5 Um povo asiático ensinava que “Deus é um grande temor”; sendo isso um resultado da religião puramente evolucionária. Jesus, a revelação do mais elevado tipo de vida religiosa, proclamou que “Deus é amor”.

2. A Religião e os Costumes


(1004.4) 92:2.1 A religião é a mais rígida e a mais inflexível de todas as instituições humanas, e só tardiamente ela se adapta à sociedade em mudança. Finalmente, a religião evolucionária reflete a mudança dos costumes que, por sua vez, podem ter sido afetados pela religião revelada. Gradativa e seguramente, mas com uma certa resistência, a religião (o culto) caminha devagar na esteira da sabedoria — conhecimento dirigido pela razão experiencial e iluminado pela revelação divina.
(1004.5) 92:2.2 A religião adere aos costumes; aquilo que foi é, antiga e supostamente, sagrado. Por essa razão e por nenhuma outra, os utensílios de pedra perduraram ainda por muito tempo na idade do bronze e do ferro. Os registros contêm a seguinte afirmação: “E se vós fizerdes um altar de pedra para mim, vós não o construireis de pedra talhada, pois, se usardes as vossas ferramentas para fazê-lo, vós o tereis profanado”. Mesmo hoje, os hindus acendem os fogos nos seus altares usando uma broca primitiva. No curso da religião evolucionária, a novidade tem sido sempre encarada como um sacrilégio. O sacramento deve consistir não de alimento novo e manufaturado, mas do comestível mais primitivo: “A carne fresca, tostada no fogo, e o pão sem levedura, servido com ervas amargas”. Todos os tipos de uso social, e mesmo os procedimentos legais estão aferrados às velhas formas.
(1004.6) 92:2.3 Quando o homem moderno surpreende-se de que as escrituras das diferentes religiões apresentem tantas passagens que poderiam ser consideradas como obscenas, ele deveria refletir e observar que as gerações passadas temeram eliminar aquilo que os seus ancestrais consideravam santo e sagrado. Grande parte daquilo que uma geração poderia considerar obsceno, as gerações precedentes consideraram como os seus costumes aceitos e, mesmo, como rituais religiosos aprovados. Um número considerável de controvérsias religiosas tem sido ocasionado pelas tentativas, sem fim, de reconciliar práticas antigas, mas repreensíveis, com o novo avanço da razão, para encontrar teorias plausíveis para justificar as crenças que se perpetuam em costumes vetustos e ultrapassados.
(1004.7) 92:2.4 Mas seria apenas uma tolice esperar uma aceleração súbita demais na evolução religiosa. Uma raça ou uma nação pode assimilar, de qualquer religião avançada, apenas aquilo que é razoavelmente consistente e compatível com o seu status evolucionário momentâneo, e com o seu talento para a adaptação. As condições sociais, climáticas, políticas e econômicas são, todas, de muita influência na determinação do curso e progresso da evolução religiosa. A moralidade social não é determinada pela religião, ou seja, pela religião evolucionária; antes, são as formas da religião que são ditadas pela moralidade da raça.
(1005.1) 92:2.5 As raças humanas apenas superficialmente aceitam uma religião estranha e nova; de fato, elas ajustam-nas aos seus velhos costumes e modos de crer. Isso é bem ilustrado pelo exemplo de uma certa tribo da Nova Zelândia, cujos sacerdotes, depois de aceitar nominalmente o cristianismo, professaram ter recebido revelações diretas de Gabriel, no sentido de que essa mesma tribo havia-se tornado o povo escolhido de Deus e que, portanto, podia entregar-se às suas relações sexuais livres e a numerosos outros dos seus costumes velhos e repreensíveis. Imediatamente todos os novos cristãos aderiram a essa versão nova e menos severa de cristianismo.
(1005.2) 92:2.6 Em dado momento ou em outro, a religião sancionou todas as espécies de comportamentos incoerentes ou contrários a si e, em certa época, aprovou praticamente tudo o que hoje é considerado como imoral ou pecaminoso. A consciência, sem o ensinamento da experiência e sem o auxílio da razão, nunca foi e nunca poderá ser um guia seguro e sem erros para a conduta humana. A consciência não é uma voz divina, falando à alma humana. É, meramente, a soma total do conteúdo moral e ético dos costumes de qualquer etapa da existência presente; e representa, simplesmente, o ideal, humanamente concebido, de reação a um conjunto qualquer de circunstâncias dadas.

3. A Natureza da Religião Evolucionária


(1005.3) 92:3.1 O estudo da religião humana é o exame da fossilização dos substratos sociais das idades passadas. Os costumes dos deuses antropomórficos são um reflexo verdadeiro da moral dos homens que inicialmente conceberam tais deidades. As religiões antigas e a mitologia retratam fielmente as crenças e as tradições dos povos, perdidas há muito na obscuridade. Essas antigas práticas de culto perduram junto com os novos costumes econômicos e as evoluções sociais e, claro está, parecem grosseiramente incoerentes. Os remanescentes do culto apresentam um verdadeiro quadro das religiões raciais do passado. Lembrai-vos sempre de que os cultos não são formados para descobrir a verdade, mas para promulgar as crenças dessa verdade.
(1005.4) 92:3.2 A religião tem sido sempre, antes de tudo, uma questão de ritos, rituais, observâncias, cerimônias e dogmas. Geralmente ela se encontra contaminada por aquele erro que provoca discórdias persistentes: a ilusão do povo escolhido. As idéias religiosas cardinais — encantamento, inspiração, revelação, propiciação, arrependimento, expiação, intercessão, sacrifício, prece, confissão, adoração, sobrevivência pós-morte, sacramento, ritual, resgate, salvação, redenção, aliança, impureza, purificação, profecia, pecado original — remontam todas aos tempos iniciais do temor primordial dos fantasmas.
(1005.5) 92:3.3 A religião primitiva é nada mais e nada menos do que um prolongamento da luta pela existência material, estendida para além-túmulo. Assim, a observância de um credo representou a extensão da luta pela automanutenção, no domínio de um mundo imaginado, de espíritos-fantasmas. Mas, se fordes tentados a criticar a religião evolucionária, sede cuidadosos. Lembrai-vos de que isso é o que aconteceu; é um fato histórico. Lembrai-vos, ainda, de que o poder de qualquer idéia repousa não na sua certeza ou verdade, mas na força da sua sedução sobre os homens.
(1006.1) 92:3.4 A religião evolucionária não toma providências para assegurar as mudanças ou a revisão; diferentemente da ciência, ela não se prepara para a sua própria correção progressiva. A religião que evoluiu impõe respeito, porque os seus seguidores acreditam que ela seja A Verdade; “a fé que uma vez foi entregue aos santos” deve, em teoria, ser tanto definitiva quanto infalível. O culto resiste ao desenvolvimento, porque é certo que o progresso verdadeiro irá modificar, ou destruir, o próprio culto. Portanto, a sua revisão deve sempre ser imposta.
(1006.2) 92:3.5 Apenas duas influências podem modificar e elevar os dogmas da religião natural: a pressão dos costumes que mudam lentamente e a iluminação periódica feita pelas revelações para toda uma época. Não é estranho que o progresso tenha sido lento, pois, outrora, ser progressista ou inventivo significava ser levado à morte como feiticeiro. O culto avança lentamente, em gerações históricas, denominadas epocais, e ciclos que duram idades, mas continua sempre indo para frente. A crença evolucionária em fantasmas lançou as bases para uma filosofia de religião revelada que, finalmente, irá destruir a superstição que é parte da sua origem.
(1006.3) 92:3.6 A religião tem limitado o desenvolvimento social de muitas maneiras, mas, sem a religião, não teria havido uma moralidade e uma ética duradouras, nem uma civilização que valesse a pena. A religião foi a mãe de grande parte da cultura não religiosa: a escultura originou-se na moldagem dos ídolos, a arquitetura, na construção dos templos, a poesia, nos encantamentos, a música, nos cânticos para os cultos, o drama, nos ritos para se guiar os espíritos, e a dança, nos festivais sazonais de adoração.
(1006.4) 92:3.7 Contudo, ao mesmo tempo em que se chama a atenção para o fato de que a religião foi essencial para o desenvolvimento e a preservação da civilização, deveria ficar registrado que a religião natural tem contribuído em muito para limitar e paralisar essa mesma civilização que, por outro lado, ela fomentou e manteve. A religião tem estorvado as atividades industriais e o desenvolvimento econômico; tem sido imprevidente quanto ao trabalho e tem desperdiçado o capital. Ela não tem sido sempre útil à família; não tem fomentado adequadamente a paz e a boa vontade; algumas vezes, negligenciou a educação e atrasou a ciência; tem empobrecido, indevidamente, a vida, pretendendo enriquecer a morte. De fato, a religião evolucionária, cuja origem é humana, tem sido culpada por todos esses erros e por muitas outras faltas e desacertos; todavia, ela manteve a ética cultural, a moralidade civilizada e a coerência social, e tornou possível à futura religião revelada compensar muitas dessas falhas da imperfeição evolucionária.
(1006.5) 92:3.8 A religião evolucionária tem sido a instituição mais dispendiosa do homem, mas é incomparavelmente a mais eficaz. A religião humana pode ser justificada apenas à luz de uma evolução da civilização. Se o homem não fosse um produto ascendente, de evolução animal, então esse curso seguido pelo desenvolvimento religioso não teria a menor justificativa.
(1006.6) 92:3.9 A religião facilitou a acumulação do capital e incentivou algumas espécies de trabalho. O lazer dos sacerdotes promoveu a arte e o conhecimento. E toda a raça, afinal, ganhou muito em conseqüência de todos esses erros iniciais da técnica ética. Os xamãs, honestos e desonestos, foram terrivelmente dispendiosos, mas eles valeram tudo o que custaram. As profissões eruditas e a própria ciência emergiram de sacerdócios parasitas. A religião fomentou a civilização e assegurou a continuidade da sociedade; tem sido a força de policiamento moral de todos os tempos. A religião cuidou para que a disciplina humana e o autocontrole tornassem a sabedoria possível. A religião é o açoite eficiente da evolução, que retira impiedosamente a humanidade indolente e sofredora do seu estado natural de inércia intelectual, impelindo-a para frente e para cima, elevando-a até os níveis mais altos de razão e sabedoria.
(1006.7) 92:3.10 Como herança sagrada de ascendência animal, a religião evolucionária deve continuar a ser sempre enobrecida pela censura constante da religião revelada, e deve ser sempre refinada no crisol abrasador da ciência genuína.

4. A Dádiva da Revelação


(1007.1) 92:4.1 A revelação é evolucionária, mas é sempre progressiva. Ao longo das idades da história de um mundo, as revelações da religião estão sempre em expansão e são, sucessivamente, sempre mais elucidativas. É missão da revelação selecionar e censurar as religiões sucessivas da evolução. Mas, se a revelação deve enaltecer as religiões da evolução e levá-las a um ponto superior, então essas visitações divinas devem retratar ensinamentos que não estejam muito distanciados do pensamento e das reações da época na qual elas são apresentadas. Assim, a revelação deve manter-se sempre em contato com a evolução, e assim ela o faz. A religião da revelação deve sempre ser limitada pela capacidade do homem para recebê-la.
(1007.2) 92:4.2 Mas, a despeito das relações ou das suas origens aparentes, as religiões de revelação são sempre caracterizadas por uma crença em alguma Deidade de valor final e em algum conceito da sobrevivência da identidade da personalidade, depois da morte.
(1007.3) 92:4.3 A religião evolucionária é sentimental, não é lógica. A reação do homem é acreditar em um mundo hipotético de espíritos-fantasmas — é o reflexo da crença do homem, excitado pela percepção e pelo medo do desconhecido. A religião reveladora é proposta pelo verdadeiro mundo espiritual; é a resposta do cosmo supra-intelectual à sede dos mortais de acreditar nas Deidades universais e de contar com elas. A religião evolucionária é o retrato do caminhar em círculos viciosos que a humanidade faz para a busca da verdade; a religião reveladora é essa verdade em si mesma.
(1007.4) 92:4.4 Houve muitos acontecimentos de revelação religiosa, mas apenas cinco deles foram de significação para toda uma época. As revelações epocais foram as seguintes:
(1007.5) 92:4.5 1. Os ensinamentos Dalamatianos. O verdadeiro conceito da Primeira Fonte e Centro foi promulgado em Urântia, pela primeira vez, pelos cem membros da assessoria corpórea do Príncipe Caligástia. Essa revelação expandida da Deidade persistiu por mais de trezentos mil anos, até que foi subitamente interrompida pela secessão planetária e pela ruptura do regime de ensino. Exceto pelo trabalho de Van, a influência da revelação Dalamatiana ficou praticamente perdida para todo o mundo. Até os noditas haviam esquecido essa verdade, já na época da chegada de Adão. Entre todos os que receberam os ensinamentos vindos dos cem, os homens vermelhos foram aqueles que os conservaram por mais tempo; mas a idéia do Grande Espírito não era senão uma concepção nebulosa, na religião ameríndia, quando o contato com o cristianismo clarificou-a e reforçou-a consideravelmente.
(1007.6) 92:4.6 2. Os ensinamentos Edênicos. Adão e Eva retrataram, uma vez mais, o conceito do Pai de todos aos povos evolucionários. A dissolução do primeiro Éden interrompeu o curso da revelação Adâmica, antes que ela tivesse começado de fato. Mas os ensinamentos abortados de Adão foram continuados pelos sacerdotes setitas, e algumas dessas verdades nunca foram inteiramente perdidas para o mundo. Toda a tendência da evolução religiosa do levante foi modificada pelos ensinamentos dos setitas. Mas, por volta de 2500 a.C., a humanidade tinha perdido de vista, em grande parte, a revelação promovida à época do Éden.
(1007.7) 92:4.7 3. Melquisedeque de Salém. Este Filho emergencial de Nébadon inaugurou a terceira revelação da verdade em Urântia. Os preceitos cardinais dos seus ensinamentos foram: confiança e fé. Ele ensinou a confiança na beneficência onipotente de Deus e proclamou a fé como o ato por meio do qual os homens ganham o favorecimento de Deus. Os seus ensinamentos gradualmente misturaram-se às crenças e práticas de várias religiões evolucionárias e, finalmente, resultaram naqueles sistemas teológicos presentes em Urântia quando da abertura do primeiro milênio depois de Cristo.
(1008.1) 92:4.8 4. Jesus de Nazaré. Cristo Michael apresentou o conceito de Deus, trazido assim em Urântia pela quarta vez, como o Pai Universal; e esse ensinamento perdurou em geral desde então. A essência do seu ensinamento foi amor e serviço, a adoração amorosa que um filho criatura dá voluntariamente em reconhecimento e em retorno à ministração do amor de Deus, o seu Pai; o serviço que tais filhos criaturas oferecem, de vontade espontânea aos seus irmãos, em uma alegre compreensão de que, nesse serviço, eles estão servindo, do mesmo modo, a Deus, o Pai.
(1008.2) 92:4.9 5. Os Documentos de Urântia. Os documentos, dos quais este é um deles, constituem a mais recente apresentação da verdade aos mortais de Urântia. Esses documentos diferem de todas as revelações anteriores, pois não são trabalho de uma única personalidade do universo; são, sim, apresentações compostas, efetuadas por muitos seres. Nenhuma revelação, todavia, pode jamais ser completa, antes de se alcançar o Pai Universal. Todas as outras ministrações celestes não são mais do que parciais, transitórias e praticamente adaptadas às condições locais de tempo e de espaço. É possível que, ao admitir tudo isso, possamos esvaziar a força imediata e a autoridade de todas as revelações, mas é chegado o tempo em Urântia, em que é aconselhável fazer essa declaração franca, ainda que correndo o risco de enfraquecer a influência futura e a autoridade desta obra, que é a mais recente das revelações da verdade às raças mortais de Urântia.

5. Os Grandes Líderes Religiosos


(1008.3) 92:5.1 Na religião evolucionária, os deuses são concebidos para existir à semelhança da imagem do homem; na religião reveladora, é ensinado aos homens que são filhos de Deus — feitos, mesmo, à imagem finita da divindade. Nas crenças sintetizadas compostas dos ensinamentos da revelação e dos produtos da evolução, o conceito de Deus é uma combinação entre:
(1008.4) 92:5.2 1. As idéias preexistentes dos cultos evolucionários.
(1008.5) 92:5.3 2. Os ideais sublimes da religião revelada.
(1008.6) 92:5.4 3. Os pontos de vista pessoais dos grandes líderes religiosos, os profetas e mestres da humanidade.
(1008.7) 92:5.5 A maioria das grandes épocas religiosas foi inaugurada pela vida e ensinamentos de alguma personalidade proeminente; a liderança originou a maioria dos movimentos morais dignos de nota da história. E os homens sempre tiveram a tendência para venerar um líder, ainda que seja às custas dos seus ensinamentos; de reverenciar a sua personalidade, ainda que percam de vista as verdades que ele proclamou. E isso não acontece sem motivo: há um desejo instintivo no coração do homem evolucionário, de receber ajuda de cima e do além. Esse anseio tem a finalidade de antecipar a vinda, à Terra, do Príncipe Planetário e, posteriormente, dos Filhos Materiais. Em Urântia, o homem tem sido privado desses líderes e governantes supra-humanos e, por isso, constantemente ele procura compensar essa perda, envolvendo os seus líderes humanos em lendas que estabelecem origens sobrenaturais e carreiras miraculosas para eles.
(1008.8) 92:5.6 Muitas raças têm concebido os seus líderes como tendo nascido de virgens; as suas carreiras são generosamente pontuadas por episódios miraculosos, e o retorno desses líderes é sempre aguardado pelos seus respectivos grupos. Na Ásia central, os homens das tribos ainda aguardam pelo retorno de Gengis Khan; no Tibete, na China e na Índia, de Buda; no islamismo, de Maomé; entre os ameríndios, de Hesunanin Onamonalonton; com os hebreus foi, em geral, o retorno de Adão como o governante material. Na Babilônia, o deus Marduk foi uma perpetuação da lenda de Adão, da idéia do filho de Deus, do elo entre o homem e Deus. Em seguida ao aparecimento de Adão na Terra, os assim chamados filhos de Deus eram comuns entre as raças do mundo.
(1009.1) 92:5.7 Todavia, independentemente do respeito supersticioso que freqüentemente os envolveu, ainda permanece como fato que esses mestres foram as personalidades temporais de apoio, das quais dependeram as alavancas da verdade revelada, para fazerem avançar a moralidade, a filosofia e a religião da humanidade.
(1009.2) 92:5.8 Houve centenas e centenas de líderes religiosos, na história milenar de Urântia, desde Onagar, ao Guru Nanak. Durante esse tempo, houve muitas cheias e vazantes, na maré da verdade religiosa e da fé espiritual, e cada renascimento da religião urantiana tem sido, no passado, identificado com a vida e os ensinamentos de algum líder religioso. Considerando os instrutores dos tempos recentes, pode ser útil agrupá-los em sete épocas religiosas maiores, da Urântia pós-Adâmica:
(1009.3) 92:5.9 1. O período Setit a. Os sacerdotes Setitas, regenerados sob a liderança de Amosad, tornaram-se os grandes instrutores pós-Adâmicos. Eles ensinaram nas terras dos anditas, e a sua influência perdurou por mais tempo entre os gregos, sumérios e indianos. Entre estes últimos, a sua influência continuou até o tempo presente, como entre os brâmanes de fé hindu. Os setitas e os seus seguidores nunca se perderam inteiramente do conceito da Trindade, revelado por Adão.
(1009.4) 92:5.10 2. A era dos missionários de Melquisedeque. A religião de Urântia foi regenerada, em grande medida, pelos esforços daqueles instrutores que saíram em comissões formadas por Maquiventa Melquisedeque, quando ele viveu e ensinou em Salém, quase dois mil anos antes de Cristo. Esses missionários proclamaram a fé como o preço para o favorecimento de Deus, e os seus ensinamentos, ainda que improdutivos, para o aparecimento imediato de qualquer religião, formaram, contudo, as fundações sobre as quais os instrutores posteriores da verdade iriam construir as religiões de Urântia.
(1009.5) 92:5.11 3. A era pós-Melquisedeque. Embora Amenemope e Iknaton tivessem, ambos, ensinado neste período, o gênio religioso mais notável da era pós-Melquisedeque foi o líder de um grupo de beduínos do levante, o fundador da religião hebraica — Moisés. Moisés ensinou o monoteísmo. Disse ele: “Escutai, ó Israel, o Senhor nosso Deus é um só Deus”. “O Senhor é Deus. Não há outro além Dele.” E, persistentemente, buscou ele desarraigar o remanescente do culto aos fantasmas junto ao seu povo, prescrevendo até a pena de morte para os seus praticantes. O monoteísmo de Moisés foi adulterado pelos seus sucessores, mas, em tempos posteriores, eles retornaram a muitos dos seus ensinamentos. A grandeza de Moisés repousa na sua sabedoria e sagacidade. Outros homens tiveram conceitos mais elevados de Deus, mas nenhum homem teve jamais tanto êxito em induzir grandes números de pessoas a adotar crenças tão avançadas.
(1009.6) 92:5.12 4. O sexto século antes de Cristo. Muitos homens surgiram para proclamar a verdade neste que foi um dos séculos marcantes para um despertar religioso jamais visto em Urântia. Entre esses devem ser lembrados Gautama, Confúcio, Lao-tsé, Zoroastro e os mestres jainistas. Os ensinamentos de Gautama tornaram-se bastante difundidos na Ásia, e ele é reverenciado por milhões, como o Buda. Confúcio foi, para a moralidade dos chineses, o que Platão foi para a filosofia grega e, mesmo tendo havido repercussões religiosas para os ensinamentos de ambos, nenhum dos dois foi, estritamente falando, um mestre religioso; Lao-tsé teve uma visualização maior de Deus, no Tao, do que Confúcio no campo das humanidades, ou Platão no idealismo. Zoroastro, se bem que muito influenciado pelo conceito de um espiritualismo predominantemente dualista, ou seja, do bem e do mal, ao mesmo tempo exaltou definitivamente a idéia de uma Deidade eterna, e da vitória última da luz sobre as trevas.
(1010.1) 92:5.13 5. O primeiro século depois de Cristo. Como um mestre religioso, Jesus de Nazaré partiu do culto que tinha sido estabelecido por João Batista e progrediu até onde pôde, libertando aquele culto das amarras e das formalidades. Além de Jesus, Paulo de Tarso e Filo de Alexandria foram os maiores mestres dessa era. Os conceitos deles, dentro da religião, exerceram um papel dominante na evolução da fé que traz o nome de Cristo.
(1010.2) 92:5.14 6. O sexto século depois de Cristo. Maomé fundou uma religião que foi superior a muitos dos credos desta época. E esta foi um protesto contra as exigências sociais das religiões estrangeiras e contra a incoerência da vida religiosa do seu próprio povo.
(1010.3) 92:5.15 7. O décimo quinto século depois de Cristo. Este período testemunhou dois movimentos religiosos: a ruptura da unidade do cristianismo no Ocidente, e a síntese de uma nova religião no Oriente. Na Europa, a cristandade institucionalizada tinha atingido aquele grau de inflexibilidade que tornou qualquer crescimento posterior incompatível com a unidade. No Oriente, os ensinamentos combinados do islamismo, do hinduísmo e do budismo foram sintetizados por Nanak e pelos seus seguidores no sikismo, uma das mais avançadas religiões da Ásia.
(1010.4) 92:5.16 O futuro de Urântia, sem dúvida, será caracterizado pelo aparecimento de educadores da verdade religiosa — a Paternidade de Deus e a fraternidade de todas as criaturas. Mas é de se esperar que os esforços sinceros e ardentes dos profetas futuros sejam dirigidos menos para o fortalecimento de barreiras inter-religiosas e mais para o aumento da irmandade religiosa de culto espiritual, entre os muitos seguidores das diferentes teologias intelectuais tão características da Urântia de Satânia.

6. As Religiões Compostas


(1010.5) 92:6.1 As religiões do século vinte, em Urântia, oferecem um interessante quadro da evolução social da tendência humana para a adoração. Muitas fés pouco progrediram desde os dias do culto dos fantasmas. Os pigmeus da África não têm nenhuma reação religiosa, como classe, embora alguns deles acreditem vagamente em um meio ambiente com espíritos. Eles estão, hoje, exatamente onde o homem primitivo estava, quando a evolução da religião começou. A crença básica da religião primitiva era a de sobrevivência depois da morte. A idéia de adorar um Deus pessoal indica um desenvolvimento evolucionário avançado, e mesmo o primeiro estágio da revelação. Os Diaks desenvolveram apenas as práticas religiosas mais primitivas. Os esquimós e os ameríndios, relativamente recentes, tinham um conceito muito estreito de Deus; eles acreditavam em fantasmas e tinham, ainda que indefinida, uma idéia sobre alguma espécie de sobrevivência depois da morte. Os nativos australianos dos dias atuais têm apenas medo de fantasmas, um temor do escuro e uma veneração rudimentar pelos ancestrais. Os zulus só agora estão desenvolvendo uma religião de medo de fantasmas e de sacrifícios. Muitas tribos africanas, a não ser pelo trabalho missionário dos cristãos e maometanos, ainda não passam do estágio do fetiche, na sua evolução religiosa. Mas alguns grupos vêm mantendo, há muito, a idéia do monoteísmo, como os trácios de outrora, que acreditavam também na imortalidade.
(1010.6) 92:6.2 Em Urântia, a religião evolucionária e a religião reveladora estão progredindo lado a lado, e, ao mesmo tempo, amalgamando-se e fundindo-se nos sistemas teológicos diversificados, encontrados no mundo à época da elaboração destes documentos. Essas religiões, as religiões da Urântia do século vinte, podem ser enumeradas como a seguir.
(1011.1) 92:6.3 1. O hinduísmo — a mais antiga.
(1011.2) 92:6.4 2. A religião hebraica.
(1011.3) 92:6.5 3. O budismo.
(1011.4) 92:6.6 4. Os ensinamentos de Confúcio.
(1011.5) 92:6.7 5. As crenças taoístas.
(1011.6) 92:6.8 6. O zoroastrismo.
(1011.7) 92:6.9 7. O xintoísmo.
(1011.8) 92:6.10 8. O jainismo.
(1011.9) 92:6.11 9. O cristianismo.
(1011.10) 92:6.12 10. O islamismo.
(1011.11) 92:6.13 11. O sikismo — a mais recente.
(1011.12) 92:6.14 As religiões mais avançadas dos tempos antigos foram o judaísmo e o hinduísmo, e cada uma havia influenciado em grande parte o curso do desenvolvimento religioso, respectivamente, no Oriente e no Ocidente. Ambos, hindus e hebreus acreditaram que as suas religiões foram inspiradas e reveladas, e acreditavam que todas as outras eram formas decadentes da fé única e verdadeira.
(1011.13) 92:6.15 A Índia está dividida entre as religiões hindu, sikista, maometana e jainista, cada uma delas retratando Deus, o homem e o universo, segundo a sua própria concepção. A China segue os ensinamentos taoístas e confucionistas; o xintoísmo é reverenciado no Japão.
(1011.14) 92:6.16 As grandes crenças internacionais e inter-raciais são a hebraica, a budista, a cristã e a islâmica. O budismo estende-se do Ceilão e Birmânia até o Tibete, e da China ao Japão. Ele tem demonstrado uma capacidade de adaptação aos costumes de tantos povos, que tem sido igualada apenas pelo cristianismo.
(1011.15) 92:6.17 A religião hebraica abrange a transição filosófica do politeísmo ao monoteísmo; é um elo evolucionário entre as religiões de evolução e as religiões de revelação. Os hebreus foram o único povo do Ocidente a seguir a evolução dos seus deuses evolucionários primitivos até o Deus da revelação. Mas essa verdade nunca se tornou amplamente aceita até os dias de Isaías que, uma vez mais, ensinou uma idéia mista de uma deidade da raça, conjugada com a do Criador Universal: “Ó Senhor das Hostes, Deus de Israel, sois Deus, e apenas vós; vós criastes o céu e a Terra”. Num certo momento, a esperança da sobrevivência, na civilização ocidental, repousa nos conceitos hebraicos sublimes da bondade e nos conceitos helênicos avançados da beleza.
(1011.16) 92:6.18 A religião cristã é a religião sobre a vida e os ensinamentos de Cristo, baseados na teologia do judaísmo, modificados posteriormente por meio da assimilação de certos ensinamentos zoroastrianos e da filosofia grega, e formulados primariamente por três indivíduos: Filo, Pedro e Paulo. Ela passou por muitas fases de evolução, desde o tempo de Paulo; e tornou-se tão completamente ocidentalizada que muitos povos não europeus, muito naturalmente, consideram o cristianismo uma estranha revelação, de um Deus estranho, destinada a estrangeiros.
(1011.17) 92:6.19 O islamismo é a conexão religioso-cultural entre a África do norte, o Levante, e o sudoeste da Ásia. Foi a teologia judaica, em ligação com os ensinamentos posteriores do cristianismo, que tornou o islamismo monoteísta. Os seguidores de Maomé tropeçaram nos ensinamentos avançados da Trindade; eles não podiam compreender uma doutrina de três personalidades divinas e uma Deidade. É sempre difícil induzir as mentes evolucionárias a aceitarem, subitamente, uma verdade superior revelada. O homem é uma criatura evolucionária e deve adquirir a sua religião principalmente por técnicas evolucionárias.
(1012.1) 92:6.20 A adoração dos antepassados, em uma determinada época, constituiu um avanço incontestável na evolução religiosa, mas é tão surpreendente quanto lamentável que esse conceito primitivo sobreviva na China, no Japão e na Índia, em meio a tantas coisas relativamente tão mais avançadas, tais como o budismo e o hinduísmo. No Ocidente, o culto dos antepassados desenvolveu-se na veneração de deuses nacionais e no respeito pelos heróis da raça. No século vinte, essa religião nacionalista, de veneração de heróis, faz sua aparição nos vários secularismos e nacionalismos radicais que caracterizam muitas raças e nações do Ocidente. Grande parte dessa mesma atitude é também encontrada nas grandes universidades e nas comunidades industriais maiores, dos povos de língua inglesa. Não muito diferente desses conceitos é a idéia de que a religião não é senão “uma busca compartilhada do lado bom da vida”. As “religiões nacionais” nada mais são do que uma reversão para o culto primevo ao imperador romano, e ao xintoísmo — a adoração do estado, na família imperial.

7. A Evolução Ulterior da Religião


(1012.2) 92:7.1 A religião não pode nunca se tornar um fato científico. A filosofia pode, verdadeiramente, repousar em uma base científica, mas a religião permanecerá, para sempre, evolucionária, ou reveladora, ou uma combinação possível de ambas, como ela é no mundo de hoje.
(1012.3) 92:7.2 Novas religiões não podem ser inventadas; ou são a conseqüência de uma evolução ou são subitamente reveladas. Todas as religiões evolucionárias novas são meras expressões avançadas de velhas crenças, em novas adaptações e ajustamentos. O velho não deixa de existir; ele funde-se com o novo, como no caso do sikismo, que cresceu e floresceu do solo e das formas do hinduísmo, do budismo, do islamismo e de outros cultos contemporâneos. A religião primitiva era muito democrática; o selvagem tomava emprestado e emprestava facilmente. Apenas com a religião revelada apareceu o egotismo teológico, autocrático e intolerante.
(1012.4) 92:7.3 As inúmeras religiões de Urântia são todas boas, na medida em que todas levam o homem até Deus e trazem até o homem a compreensão do Pai. É uma falácia, para qualquer grupo de religiosos, conceber o seu credo como a Verdade; tal atitude denota mais arrogância teológica do que certeza de fé. Todas as religiões de Urântia tirariam proveito do estudo e da assimilação do que há de melhor nas verdades contidas em qualquer outra fé, pois todas contêm verdades. Os religiosos fariam melhor em tomar emprestado o que há de mais profundo na fé espiritual viva do vizinho, do que em denunciar o que nela há de pior, nas suas superstições remanescentes e nos rituais sem valor.
(1012.5) 92:7.4 Todas essas religiões surgiram como resultado das respostas intelectuais variáveis dos homens a uma mesma e idêntica condução espiritual. E não podem, elas, nunca esperar atingir uma uniformidade de credos, dogmas e rituais, pois estes são intelectuais. Mas podem realizar, e algum dia realizarão, a unidade na adoração verdadeira do Pai de todos, pois esta é espiritual, e é para sempre verdadeiro que, no espírito, todos os homens são iguais.
(1012.6) 92:7.5 A religião primitiva foi, em grande parte, uma conscientização no nível dos valores materiais, mas a civilização eleva os valores religiosos, pois a verdadeira religião é a devoção do eu a serviço de valores com significado supremo. À medida que a religião evolui, a ética transforma-se na filosofia das morais, e a moralidade transforma-se na disciplina do eu, segundo os critérios mais elevados e supremos de valor — os ideais espirituais e divinos. A religião converte-se, assim, em uma devoção espontânea e rara, a experiência viva da lealdade do amor.
(1013.1) 92:7.6 O que indica a qualidade de uma religião é:
(1013.2) 92:7.7 1. O nível dos seus valores — as suas lealdades.
(1013.3) 92:7.8 2. A profundidade dos seus significados — a sensibilização dos indivíduos à apreciação idealista desses valores mais elevados.
(1013.4) 92:7.9 3. A intensidade da consagração — o grau de devoção a esses valores divinos.
(1013.5) 92:7.10 4. O progresso sem entraves da personalidade nesse caminho cósmico de vida espiritual idealista, a compreensão da filiação a Deus e o progredir sem fim na cidadania do universo.
(1013.6) 92:7.11 Os significados religiosos progridem em autoconsciência, quando a criança transfere as idéias de onipotência, dos seus progenitores para Deus. E toda a experiência religiosa dessa criança depende muito do que predominou na relação pai-filho: se o medo, ou se o amor. Os escravos têm experimentado sempre uma grande dificuldade de transferir o medo dos seus donos para os conceitos do amor a Deus. A civilização, a ciência e as religiões avançadas devem libertar a humanidade desses medos nascidos do horror aos fenômenos naturais. E, assim, um esclarecimento maior deveria livrar os mortais educados de toda a dependência de intermediários na comunhão com a Deidade.
(1013.7) 92:7.12 Esses estágios intermediários de hesitação idólatra na transferência da veneração do humano e do visível para o divino e o invisível são inevitáveis; mas deveriam ser abreviados pela consciência da ministração facilitadora do espírito residente divino. Entretanto, o homem tem sido profundamente influenciado, não apenas pelos seus conceitos da Deidade, mas também pelo caráter dos heróis que ele escolheu para honrar. É uma infelicidade grande que aqueles que chegaram a venerar o Cristo divino, e ressuscitado, tivessem negligenciado o homem — o valente e corajoso herói — Joshua ben José.
(1013.8) 92:7.13 O homem moderno está autoconsciente da religião, de um modo adequado, mas o hábito que tem de adoração está confuso, deixando-o em descrença, devido à metamorfose social acelerada e aos desenvolvimentos científicos sem precedentes. Os homens e as mulheres pensantes querem que a religião seja redefinida, e essa exigência irá levar a religião a reavaliar a si própria.
(1013.9) 92:7.14 O homem moderno depara-se com a tarefa de fazer, em uma única geração, mais re-adequações dos valores humanos do que as que têm sido feitas em dois mil anos. E tudo isso influencia a atitude social para com a religião, pois a religião é um modo de vida, tanto quanto uma técnica de pensar.
(1013.10) 92:7.15 A verdadeira religião deve, sempre e simultaneamente, ser o fundamento eterno e a estrela guia de todas as civilizações duradouras.

(1013.11) 92:7.16 [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
FUNDAÇÃO URÂNTIA

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