O poder da oração: especialistas e religiosos falam sobre os benefícios da boa 'conversa com Deus'
Conversa, pedido, agradecimento, manifestação de fé, ato de louvor ou adoração diante do que é transcendente ou divino. A oração é um ato humano de encontro ao sagrado
“Se eu quiser falar com Deus. Tenho que ficar a sós. Tenho que apagar a luz. Tenho que calar a voz. Tenho que encontrar a paz (...)”, a canção do mestre Gilberto Gil pode ser interpretada como uma ode à crença de cada um. Pessoas de fé. Crentes a uma divindade. Agnósticos. Ateus. Não importa. Professando uma oração ou simplesmente conversando com um Deus, a força de uma prece ou de uma reza faz parte do ser humano e tem o poder de acalentar, apaziguar, encorajar, se autoconhecer, despertar a esperança e tornar a vida mais leve e o fardo do viver menos pesado.
Não é necessário seguir uma religião para orar. A religiosidade, o sentimento do sagrado, do saber da existência de algo maior também pode se apresentar em forma de oração, que está presente em todas as religiões e é um sopro essencial para o homem se manter sano. Seja na fé cristã, dos católicos, dos judeus, dos budistas, das religiões de matriz africana, como na umbanda, enfim, o Bem Viver hoje nos convida a uma conexão com as palavras que nos fazem bem, tragam paz e nos coloquem no lugar do outro, respeitando-o em comunhão com todos e com as diferenças.
O mundo está precisando de oração. Não importa o credo. E não há regras. Todo Deus prega paz, amor e respeito. Guiado por esse caminho, que cada um encontre o conforto nas palavras que irão traduzir seus anseios, apelos e buscas. Ao invocar uma oração, o homem crê em algo superior que comanda toda a complexidade do Universo e, assim, cria um diálogo permanente sentindo a presença da Providência, da suprema sabedoria de um Deus, da transcendência.
"A oração é um conforto muito grande, até para quem perdeu a esperança, porque, tomada pelo poder da oração, ela irá renascer, reencontrar o amor, que é o que importa nesta vida"
(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press %u2013 1/3/17)
Lúcia Maria dos Santos, aposentada, de 79 anos, que tem a umbanda como religião
“Curvo diante a força, dobro diante a luz. Ó força poderosa do mundo, envia uma centelha até esses pequenos que somos prostrados aos vossos pés! Afastai de nós as vibrações malignas, as palavras que ferem, os olhares que aniquilam, os pés que perseguem e os desejos que nos maltratam de longe. Ó todo-poderoso, abre para nós a senda do bem, a estrada do amor com a vossa força e a vossa luz. Que assim seja.” A oração do Divino Espírito Santo das Almas, trazida pela hierarquia espiritual da família da aposentada Lúcia Maria dos Santos, de 79 anos, é a força que a guia dentro da sua fé na umbanda, religião brasileira que sintetiza vários elementos das crenças africanas, do sincretismo católico, do cristianismo, da cultura afro-brasileira, somada aos costumes indígenas, além de influências orientais, esotéricas, místicas e kardecistas.
Para Lúcia, a oração na umbanda é igual a todas as outras. Ainda que use outras palavras, ela clama profundamente, sempre invocando Deus: “É o que fazemos. Pedimos por este mundo, que amoleça o coração das pessoas revoltadas, que nos abençoe, nos una mais e dê paz aos corações. Acredito que temos de orar diariamente, não só na hora em que precisamos. E não podemos, jamais, esquecer de agradecer”.
O AMOR Lúcia enfatiza que a oração entrega paz ao coração: “Imediatamente nos sentimos melhor, nos traz alento e tenho certeza de que é uma forma de cura. Tenho fé em Nossa Senhora Aparecida, faço minhas orações e as recebo. Sinto vontade, tenho necessidade de orar. E como me faz bem. Acredito que Deus dá a oportunidade da graça para as pessoas de fé. A oração é um conforto muito grande, até para quem perdeu a esperança, porque, tomada pelo poder da oração, ela irá renascer, reencontrar o amor, que é o que importa nesta vida”.
Não interessa o caminho, no fim de tudo, o amor é o refúgio da humanidade. Para Bruno Gimenes, conhecido como um dos responsáveis pela expansão da espiritualidade no Brasil, diretor de Conteúdo e cofundador da instituição Luz da Serra, ainda que muitos enxerguem a oração sempre dentro de uma doutrina, ela também existe fora. Para ele, não importa o caminho religioso que a pessoa tenha escolhido, a oração é um meio universal de se conectar com o planeta, com um Deus ou, até mesmo, um momento de introspecção e autoconhecimento. “Palavras que proporcionam alívio para um sofrimento ou com o objetivo de ter paz interior são bem-vindas, independentemente de credo. Há religiões que seguem ritos, mas o que importa é a busca interior por respostas que, muitas vezes, vêm em momento de oração e meditação.”
Hoje, o Bem Viver conversou com representantes e seguidores de várias religiões ou filosofias de fé para entender como a oração se apresenta para cada uma delas. Procurou enxergar como o ato de orar é presente e tem força no momento de introspecção e conexão com o divino.
Expressão divina do ser humano
A oração, canal de comunicação com Deus, faz parte da humanidade. Para o espiritismo, dita com o coração só faz bem. No judaísmo, é um processo reflexivo e de reencontro consigo mesmo
“Quanto mais simplicidade, naturalidade, confiança, humildade, mais nossa mente vibra num processo de luminosidade que alcança paragens inimagináveis"
Juselma Maria Coelho, presidente da Sociedade Espírita Maria Nunes (Seman)
A oração não precisa de local, hora ou dia apropriado para ser proferida. A mente e o coração de cada um o conduz a Deus quando for necessário. E o grande desafio é fazer da “nossa intimidade o verdadeiro altar de comunicação com Deus, nosso Pai”, na percepção de Juselma Maria Coelho, presidente da Sociedade Espírita Maria Nunes (Seman), da Sociedade Espírita Joanna de Ângelis (Seja) e do conselho administrativo do Instituto Assistencial André Luiz.
Para ela, por meio da prece todos buscam se elevar até Deus e, para o espiritismo, todas as preces de todos os cultos são boas se forem ditas com o coração, e não com os lábios. “Na sua infinita misericórdia, Deus não rejeita a voz que lhe pede ajuda ou lhe agradece só porque a pessoa faz a prece de um jeito ou de outro. O que entendemos é que a prece deve ser sempre simples e conter poucas e sinceras palavras. Aquele que não ora e desconhece a ação benfeitora da prece se sente distanciado da vida e das manifestações de real alegria que ela proporciona. Não há como desprezar a oração que funciona como um processo de iluminação do ambiente, que ela seja feita sem exageros, sem fanatismo, sem lamentações sem sentido. Orar é trabalhar no coração para que todos os sentimentos de ódio desapareçam, deixando de existir a vingança. É perdoar as ofensas, é doar sem esperar recompensa, é amar constantemente.”
Juselma Maria Coelho destaca que a oração, canal de comunicação com Deus, sempre foi utilizada em todas as épocas da humanidade, variando a forma de expressão, mas sempre concretizando um diálogo do filho (o ser humano) com o Pai (Deus). “Quanto mais cresce o homem no seu conhecimento técnico e científico, mais ele tem oportunidade de identificar uma razão suprema que rege todas as coisas do Universo. É exatamente aí, quando ele identifica que existe um ser maior, que eleva seu pensamento e dialoga com este ser da forma que sabe dialogar: ele se emociona, ele admira, ele se surpreende, ele se alegra e expressa esses sentimentos com os recursos que tem, que não deixa de ser uma forma de oração. Aquele que ora e busca ser coerente com seu sentimento expresso na oração vive em maior harmonia, suavizando as relações com seus semelhantes, familiares, com a natureza enfim.”
ESTADO INTERNO
Conforme Juselma, para que as pessoas aprendam a orar, elas precisam antes identificar a existência de Deus, entendendo-o como Pai. “Ao se conscientizar, elas passam a se voltar ao Pai para agradecer, louvar, pedir e se orientar. E é nessas buscas que aprenderão a orar. No início, às vezes, a pessoa usa de formalidades para se dirigir a Deus, mas quando percebe o quanto ele é amor, ela se enche de confiança e naturalidade, sempre com respeito.” Para ela, a verdadeira oração depende apenas do estado interno que vibra em nós. “Quanto mais simplicidade, naturalidade, confiança, humildade, mais nossa mente vibra num processo de luminosidade que alcança paragens inimagináveis. Orar é um ato elevado no reino dos homens. E saber orar é expressão divina no seio humano. Então, orações especiais, repetidas diariamente, só surtirão efeito se ao pronunciá-las a pessoa estiver num estado interno de vibração de amor. Não basta balbuciar maquinalmente as palavras.”
Em tempos conturbados, Juselma acredita que, “às vezes, andamos distraídos e nos empolgamos ou nos perturbamos com a violência que grassa em todo o planeta. Enquanto nos distraímos com os fatos, nos esquecemos de que nosso Pai é todo amor e bondade, e que nada ocorre sem que Ele permita. Temos de identificar a vigência das leis divinas e entender que tudo o que ocorre tem uma razão de ser e que todos os fatos, por mais complexos e confusos, vão nos proporcionar com o passar do tempo a progressão para a luz.”
HIGIENE DA ALMA
Muitos se esquecem do poder da oração ou só lembram nas horas de dificuldade. Para Juselma, “se todos lembrássemos da oração nos momentos difíceis, já teríamos dado um grande passo, que é a confiança na existência de um Pai que protege o filho. Bom seria, entretanto, se a oração fosse um belíssimo hábito de amor, automatizado pela crença e pela convicção em relação à existência de Deus, nosso Pai de amor. Assim como temos hábitos diários de higiene do corpo físico, deveríamos ter os hábitos diários de higiene da alma, que seria a oração”.
Juselma, que também é presidente da editora espírita Fonte Viva, escreveu a obra Linha direta com Deus, que é uma compilação de orações que orientam o pensamento diante das dificuldades que qualquer um pode vivenciar. “Busquei embasar a fundamentação da oração em Jesus e em outros amigos espirituais, deixando um modelo de oração para as mais diversas situações nas quais possamos ser envolvidos no dia a dia. As dores contribuem para a evolução, sob a regência da lei de causa e efeito. Isso não deve impedir que a gente faça o que depender de nós para melhorar a nossa condição atual.”
Se não há dia, horário e local, também não há hora para começar a orar. E toda oração tem o seu valor, como bem destaca Juselma: “Aquele que canta, dança e fala em louvor a Deus manifesta o reconhecimento da sua dependência constante do Pai. À medida que adentramos na compreensão da importância da vida e do valor que temos diante da grandeza de Deus, vamos mudando a forma de orar.
A oração sai das simples manifestações concretas para vibrações cada vez mais sutis e elevadas, que nos levam a entender que o silêncio também passa a ser prece profunda, cuja força é capaz de alterar a estrutura até de ambientes físicos.
É fácil notar isso quando convivemos com alguém que ora naturalmente e se submete a Deus, na grandeza da vida, independentemente da linha religiosa que abraça”, finaliza.
Oferenda a Deus
O judaísmo é a mais antiga tradição religiosa monoteísta, originou-se por volta do século 18 a.C, e a base está na obediência aos mandamentos divinos estabelecidos no livro sagrado: o Torá. A oração para os judeus, segundo o rabino Leonardo Alanati, da Congregação Israelita Mineira, é o esforço humano de se ligar a Deus por meio de palavras, pensamentos e emoções. “É também uma oferenda não material com a qual o presenteamos.”
(foto: Arquivo Pessoal)
Para o rabino Leonardo Alanati, da Congregação Israelita Mineira, a oração é o esforço humano de se ligar a Deus por meio de palavras, pensamentos e emoções
O rabino Leonardo Alanati afirma que a oração é um dos elementos positivos no processo de cura, mas não é o único. “Nossos sábios nos orientam a sempre procurar tratamentos médicos comprovados e adicionar a esses tratamentos a prática da oração e o cumprimento de outros mandamentos.” Assim como, para ele, a fé potencializa o poder da oração, mas não é fundamental. O rabino destaca que Deus está atento às palavras e pensamentos de qualquer pessoa, independentemente de sua fé.
Um pensador do mundo atual, o rabino Leonardo Alanati explica que, “antigamente, quando o ser humano tinha menos poder e tecnologia, as pessoas recorriam mais à oração. O judaísmo é uma religião de atos, de não depender apenas de orações. Quando Moisés estava diante do Mar Vermelho rezando, existe uma lenda que Deus lhe comanda: para de rezar e levanta os braços! Ele levantou os braços e o mar se abriu. A oração no judaísmo é também um processo reflexivo, de autoavaliação, de reencontro consigo mesmo, além de se ligar a Deus”.
RELIGIÃO DE ATOS
No judaísmo, o rabino Leonardo Alanati conta que há orações especiais, que todos devem saber e repetir diariamente, e concorda que a oração pode ser uma conversa com Deus, própria, particular, ainda que haja as preces prescritas para a religião: “O judaísmo evoluiu de orações espontâneas para orações prescritas, por diversas razões complexas. Atualmente, a maior parte das orações já está pronta, é só ler. No entanto, os judeus são convidados a acrescentar algo pessoal às orações tradicionais”.
O rabino lembra que existem orações de louvor, de pedidos e de agradecimento (além da confissão de pecados). “Mas quem só reza para pedir, traz uma oferenda incompleta.” Ele lembra ainda que “muitas orações no judaísmo estão ligadas a atos específicos. Orar deve nos inspirar a agir. O judaísmo é uma religião de atos”. O que tem a ver com a divisão da palavra oração: orar + ação, ou seja, há quem defina a oração como o momento de falar com Deus e agir, e não pedir. Mas é, sim, uma conversa para perceber e expressar o que sente e, por meio da intuição, agir, mudar e agradecer pelas coisas boas e ruins, que também são aprendizados.
Nos ensinamentos do rabino Leonardo Alanati, ele enfatiza que existem dois outros componentes na oração judaica: comunidade e estudo. A oração superior, mais elevada, é a comunitária. A oração individual pode ocorrer, mas é incompleta. “A liturgia combinou alguns textos sagrados bíblicos e pós-bíblicos entre as orações para que esta seja também uma oportunidade de aprendizado.” (LM)
"O respiro da alma"
Para a Igreja Católica, a oração é a forma de comunicação, linguagem e unidade com Deus. E nãohá religião sem essa dimensão espiritual. No Budismo, a fé está na identificação com a natureza
Padre Marcelo Carlos da Silva, pároco e reitor do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua Nossa Senhora da Boa Viagem, lembra que muitos só se lembram de Deus nos momentos difíceis(foto: Patricia Ribas/Divulgação)
A oração faz parte da vida cristã. Com mais de dois mil anos de história, a mais antiga instituição do mundo em funcionamento, hoje sob a liderança do papa Francisco, a religião católica, portadora da integralidade e totalidade do depósito da fé, é constituída por ensinamentos como amor, compaixão, fraternidade, solidariedade provenientes das ideias de Jesus Cristo, fundador e o maior apóstolo do cristianismo. Padre Marcelo Carlos da Silva, pároco e reitor do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua Nossa Senhora da Boa Viagem, explica que a oração é o “respiro da alma” sedenta da transcendência, como nos recorda todos os teólogos da igreja primitiva.
“Ela é a forma de comunicação com Deus, de linguagem e unidade. Para nós católicos, não existe religião sem essa dimensão da vida espiritual. Por isso, a oração como forma de diálogo e comunicação com Deus pode ter vários formas, ou métodos, como o da Inaciano, de Santo Inácio; a Lectio Divina (leitura orante), que é feita por meio da escuta e meditação da palavra de Deus; a Leitura Centrante; a meditação; a oração diante da Eucaristia (adoração), o método mais inserido na meditação na natureza, com a música... Ou seja, em se tratando de método orante, tem vários estilos.”
Padre Marcelo acredita que a oração é a forma ou meio de comunhão e conexão com Deus e acrescenta que a melhor forma e o conteúdo do método “é a vida das pessoas, o que vivem e sentem. Jesus um dia disse 'a oração que agrada a Deus é aquela que brota do coração', de dentro da vida e nos devolve pra própria vida”. Assim, é natural dizer que a oração tem poder: “Sim, já que a força que alimenta a oração é a fé. E onde o ser humano põe fé, ele põe a força que transforma a vida”.
SUPERMERCADO DA FÉ
Mas é triste que muitos só pensam em rezar em momentos de angústia. Mas, para padre Marcelo, a verdade é que muitos só se lembram de Deus nos momentos difíceis, de necessidades, e usam da oração para “acessá-lo”, fazendo nascer uma compreensão equivocada de Deus como se ele fosse “um produto de supermercado”, onde as pessoas vão buscar o que precisam, em geral coisas, quase sempre... e não a força do alto para enfrentar os desafios. “O que Deus nos deu de mais importante é a salvação, a vida eterna. Tudo o mais está abaixo. mas nesta lógica materialista religiosa, Deus se torna essa espécie de fonte materialista (supermercado da fé) onde as pessoas não vão a Ele pelo que ele é, mas pelo que Ele dá. Essa relação é interesseira e perigosa, já que Deus vira mais um produto no mundo do consumismo em que o que importa é o que Ele me dá e não as pessoas, a comunidade, a sociedade, a vida em todas as suas variedades. Uma fé madura nos coloca em comunhão com as dores do mundo, do próximo, dos seres e não só com o meu 'mundinho pessoal'”, ensina.
Para padre Marcelo, o mundo está precisando de uma vida espiritual orante, que leve as pessoas ao próximo e não só a ela mesmas: “A solidão é sintoma do vazio e do isolamento, do individualismo. Deus nos leva ao outro e a outros infinitos da vida em sua ampla realidade. O mundo está precisando de 'pessoas orantes', homens e mulheres, mas que levem a oração para a vida e a vida para a oração. Onde o orante por essa via se torne um ser humano melhor, mais compassivo e solidário. Um homem ou mulher religioso que usa a religião, a oração e Deus para segregar, para polarizar, para agredir e reproduzir a intolerância como tem ocorrido não se encontrou com o verdadeiro Deus, mas com um 'deus – com d minúsculo mesmo – que foi criado à sua própria imagem e semelhança' e não a de Jesus Cristo que nos ensina que 'Deus é amor'”.
VIDA ORANTE
No entanto, padre Marcelo é otimista. Ele crê que, mesmo em uma sociedade marcada pela cultura do individualismo e do consumismo num mundo tecnologizado, a oração e a religião têm o seu lugar e importância pessoal, inclusive para os jovens: “Aplicativos que promovem a oração e a palavra de Deus existem com variedade. Por ser a Boa Viagem uma igreja 24 horas, Santuário da Adoração Perpétua, temos muitos fenômenos juvenis aqui presentes. Temos, por exemplo, os 'Amigos Adoradores', que às sextas-feiras, às 23h, depois da faculdade e de um dia de trabalho, em vez de irem pra balada, veem para a igreja rezar. Ou seja, eles vão buscar um momento de oração pessoal com Cristo. A oração faz parte também da vida de muitos que não têm filiação religiosa (igreja) e que buscam a vida espiritual sem laço com as instituições. Isso quer dizer, tem uma vida orante mas sem pertença religiosa”.
Padre Marcelo explica que a oração está correlacionada com a fé: “Não há fé sem vida orante, oração. Bem como não há oração sem que seja alimentada pelo princípio da fé, do ato de acreditar em um Deus que lhe escuta. A fé está para a oração e vice-versa assim como o mar está para os peixes. retire o peixe do mar, da água e ele morrerá. Retire a fé do orante e ele desparece”. Como não há prazo ou hora para começar e encontrar sua fé e oração, no fim de ano, quando as emoções estão mais afloradas, padre Marcelo conta que “nesta época parece que as pessoas se dispõem a fazer o bem a tudo aquilo que não fizeram ao longo dos 365 dias. Mas chega o ano novo e essa sensibilidade humana e espiritual parecem desaparecer. Mas é bem verdade que tem pessoas que rompem com essa cultura superficial do bem e da espiritualidade. Aqui mesmo na igreja da Boa Viagem temos projetos de amor ao próximo e compaixão o ano inteiro: grupo de pastoral de rua, de acolhimento de refugiados, da cultura, da pessoa idosa, de terapias individuais e grupais... Enfim, ao longo dos anos, mais de 40 grupos dão vida a essa comunidade. Já na virada do ano, mais de 500 pessoas de vários lugares da Grande BH veem para a Boa Viagem para a vigília da paz. Em vez de fazer ritos de crendices e superstições, eles rezam pela paz no mundo e pedem as bênçãos de Deus para o novo ano. É uma energia, uma espiritualidade sublime a de passarmos o ano em oração”.
Energia do amor
Ele conta que desde pequeno foi estimulado a ver a vida de uma forma espiritualista, bem aberta. A visão da espiritualidade sem cunho religioso sempre foi um padrão da educação que recebeu. Bruno Gimenes é conhecido como um dos responsáveis pela expansão da espiritualidade no Brasil, especialista em desenvolvimento pessoal e prosperidade. Diretor de conteúdo e cofundador da Instituição Luz da Serra, é professor, palestrante e destaque no canal Luz da Serra no YouTube, com mais de 1 milhão de seguidores no qual aborda assuntos de bem-estar, desenvolvimento pessoal e espiritualidade que impactam a vida de milhares de pessoas diariamente.
Para Bruno, “a oração é a conexão capaz de manipular as forças balsâmicas para curar tudo que precisa ser curado. A única recomendação é que, ao iniciar uma prece com gratidão, a energia do amor seja emitida. Ela é capaz de se conectar com outras energias de luz pelo mundo, já que tem a mesma frequência. Esse processo, de agradecer e conectar-se na mesma vibração, são duas das quatro etapas que proponho para realizar a oração mais poderosa de todos os tempos, descrita em meu livro. Uma orientação que dou para quem costuma fazer uma reza específica (Pai-Nosso, Ave-Maria), entoar mantras ou qualquer outro ritual religioso, é incluir a oração mais poderosa durante as práticas diárias”.
Bruno explica que a única direção da oração é a gratidão. “No livro, ensino a conexão de quatro etapas. O primeiro passo é expandir a sua energia por meio da gratidão. Onde quer que você esteja, do jeito que for, sozinho ou acompanhado, na sua casa ou na igreja, em um lugar barulhento ou no silêncio absoluto, acreditando ou não em Deus. Nada disso importa. Comece a oração agradecendo. Agradecer não é ignorar o que está ruim, mas enaltecer o que está bom. A segunda é a conexão, é se conectar com outras pessoas que estão nessa mesma vibração de gratidão que você. A próxima fase é direcionar a energia. Com toda essa força de luz em mãos, é o momento de guiar essa energia para todas as causas do mundo que você acha que precisam de ajuda. E, por último, vem a etapa 'eu mereço'. Depois que você utilizou as suas emoções e elevou a sua energia, se conectou com a luz de todos, na mesma vibração, e mandou essa força para o mundo, chega o momento que chamo de 'eu mereço'. É agora que você vai pedir o que quer; é aqui que você expressa e entrega para o universo os desejos mais profundos do seu coração.”
Na crença de Bruno, há outro momento-chave essencial para fazer uma oração preciosa: o fim. “Nos segundos finais da prece, a conexão está no melhor nível de energia. Por isso, esse instante não deve ser quebrado ao abrir os olhos imediatamente. O ideal é manter os olhos fechados, seja por um minuto ou 10 minutos. É no período pós-conexão que as maiores inspirações acontecem.”
Para ler...
l Uma oração para todas as religiões
Oração é a conexão capaz de manipular as forças balsâmicas para curar tudo que precisa ser curado. Ao iniciar uma prece com gratidão, a energia do amor é emitida. Ela é capaz de se conectar com outras energias de luz pelo mundo, já que tem a mesma frequência. Esse processo, de agradecer e conectar-se na mesma vibração, são duas das quatro etapas propostas pelo auto para realizar a oração mais poderosa de todos os tempos. Em 11 capítulos, Bruno Gimenes esclarece como descobriu essa forma de orar e explica por que as pessoas rezam errado. Além de revelar em detalhes as quatro etapas para uma prece poderosa, o autor ainda oferece uma oração conduzida – que pode ser feita por meio da leitura ou áudio por meio do qrcode disponível na obra – e apresenta uma rotina de oração para cada área da vida.
Título: A oração mais poderosa de todos os tempos
Autor: Bruno Gimenes
Editora: Luz da Serra Editora
Páginas: 160 Preço: 34,90
Abade Mokugen, do Templo Zen das Alterosas, explica que quando oramos nos harmonizamos com a grande natureza representada por Buda(foto: Arquivo Pessoal)
Momento de iluminação
O budismo é uma religião baseada nos ensinamentos deixados pelo Shakyamuni Buda há mais de 2.600 anos. Ele nasceu com o nome de Siddhartha Gautama, na Índia, e viveu aproximadamente entre 563 e 483 a.C. em uma região que hoje pertence ao Nepal. A prática parte da constatação do sofrimento como a condição fundamental de toda existência e afirma a possibilidade de superá-lo por meio da obtenção de um estado de bem-aventurança integral, o nirvana. O budismo é uma religião que não professa a existência de nenhum Deus.
Até os dias de hoje, o Dharma budista (dharma, palavra em sânscrito que significa aquilo que mantém elevado) é transmitido por todas as gerações de budas e patriarcas. Peculiarmente, o zen é transmitido de coração a coração, de corpo a corpo, além das escrituras, transcendendo o mundo das palavras. O abade Mokugen, do Templo Zen das Alterosas, fundado há 15 anos, no Bairro Serra, missionário e diretor-assistente da Escola Soto Zen da América Latina, que morou e fez seu treinamento no Japão por 22 anos, explica que quando oramos nos harmonizamos ou nos identificamos com a grande natureza que é representada pelo Buda. Com a energia mais elevada, obtemos benefícios porque, interiormente, todas as pessoas têm natureza divina ou budica.
No budismo, destaca abade Mokugen, por meio da oração o praticante alcança o estado de consciência mais profundo e, com essa identificação, eleva-se o espírito e a mente universal se expressa. “Tanto a oração quanto a meditação despertam a natureza adormecida e divina e, assim, temos um momento de comunhão com o mesmo nível de energia. Não há dogma no budismo e qualquer pessoa quando ora ou medita se identifica e harmoniza com o estado de consciência de Buda. Assim, a pessoa se torna iluminada ao, simplesmente, despertar a natureza original que já tem ao nascer.”
Conforme o abade Mokugen, a comunhão por meio da oração se apresenta quando cada um passa a praticar o desapego dos egocentrismos. É preciso se libertar do material, da visão errônea de sim mesmo. No budismo, há um ditado do mestre japonês Dogen, fundador da Escola Soto Zen, que diz assim: “Estudar o budismo é estudar a si próprio. Estudar a si próprio é esquecer de si próprio. E esquecer de si próprio é estar em harmonia com todas as coisas do universo”, que é a iluminação.
A oração é o caminho da transcendência. Abade Mokugen, em outro ditado, ensina que “classificar a questão da vida e da morte é a mais importante de todas. Tudo é impermanente e o tempo passa rapidamente. Não desperdice a sua vida em vão”, ou seja, busque a transcendência.
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