A QUARESMA INTERIOR: JEJUAR MENTALMENTE!




 A QUARESMA INTERIOR


De certo modo, a vida pode ser vista como uma Quaresma, como preparação para a etapa final, a Páscoa para a Ressurreição. Será bom interiorizar a Quaresma. Dar ao corpo algum jejum nunca é demais. Mostra-nos a dependência que temos da comida como meio de apaziguar as ansiedades, expõe a nossa escravidão a hábitos e costumes adquiridos. A principal purificação que o jejum ou alguma privação nos mostra resulta dessa consciência que nos remete um pouco à humildade. Situa-nos mais criteriosamente na realidade em que vivemos e não naquela em que acreditamos viver.


Que realidade vivemos? A dependência. Desejos infinitos que se tornaram necessidades. Não é mais de água potável que precisamos, mas desta ou daquela bebida com sabor. Não é mais comer o que precisamos, mas sim aquele prato específico que tanto queremos e que quanto mais saboreamos mais desejamos. E assim como fazer o exercício de privar o corpo de algo habitual nos coloca diante da submissão em que vivemos aos seus impulsos, dar um pouco de jejum à mente nos deixa surpresos; notamos o sono de bela adormecida em que costumamos permanecer.


O que seria jejuar mentalmente?


Pare de ruminar os mesmos velhos pensamentos. Pare de pensar sempre nas mesmas coisas como se naquela mastigação de tensões os problemas fossem se resolver. Reconheça que, da mesma forma que costumávamos comer um certo doce no café da manhã, os pensamentos costumam seguir o mesmo caminho já batido, mais ou menos nas mesmas horas. Tendemos a comer sempre a mesma coisa, dependentes que somos desses aromas e sabores. Da mesma forma, sempre tendemos a "pensar" a mesma coisa, dependentes como somos de certas sensações "preocupantes", que, se não existissem, exporiam o vazio de sentido em nossas vidas diárias.


Negligenciar os pensamentos que aparecem e direcionar a atenção para o propósito interior traçado é um formidável jejum mental. Por exemplo, direcionando a atenção para o caminho da oração ao qual nos consagramos ou para a percepção da presença do divino no que está acontecendo, ou simplesmente concentrando-nos em fazer o melhor possível no momento é uma conversão contínua. Retomar repetidamente a atenção que nos escapa e trazê-la de volta para casa, para o coração e levá-la para onde realmente queremos depositá-la, é jejum, esmola, purificação e Quaresma da alma.


Quem fica no presente, cônscio, naturalmente tende a comer menos, apenas o necessário. Desta consciência atenta escuta-se mais o outro e surge uma espécie de caridade espontânea adequada a cada situação. Esta mesma vigilância mostra-nos a mesquinhez constante que nos aprisiona e assim ficamos mais humildes, mas sem tristeza. É tirar a maquiagem e olhar-se de frente e encontrar aí mesmo o amor para si, sem condições. Este tempo litúrgico pretende ser uma oportunidade de conversão, de mudança profunda... penitência...


Fonte: Blog El Santo Nome

https://elsantonombre.org


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